08/05/2009

Gente estranha, resultado "exquisito"


No auditório pequeno do grande museu de arte contemporânea de Barcelona, subiram ao palco ontem os músicos Moreno, Kassin e Domenico, acompanhados do francês da cidade de Montpellier, Stephan San Juan, e do "prodígio" (em palavras do Kassin) Alberto Continentino, formação que está ao longo de toda a turnê e que já veio para Barcelona não faz muito tempo. Se a Apolo, casa tradicional de shows, parecia grande para eles na última ocasião, agora o auditório está lotado, gente em pé sambando na lateral e fila gigante para fora querendo entrar.

Em mais de duas horas de show, com direito a bis e música extra, os cinco fazem a sua mistura interessante de sons característicos brasileiros com elementos eletrônicos e guitarras distorcidas, no melhor formato para "gringo ver". E se o sucesso vem mesmo mais de fora, daí que não é absurdo compará-los em muitos momentos a bossinha sueca dos Kings of Convenience, ao estilo "A Pequena Sereia" de um novo (?) Vampire Weekend, a pretensões eletrônicas de um Portishead (aqui muito mais mambembe), a letras irônicas (e algo piadísticas) e guitarras distorcidas não levadas muito a sério de um Art Brut (na figura de Kassin) ou mesmo aos Talking Heads e seu David Byrne, que andou tocando "Nothing but flowers" em ritmo de baião quando esteve pelo Brasil (e tocou com Caetano, o pai de um deles, no polêmico VMB da MTV, com direito a piti e tudo).

Podíamos comparar com Funk como le Gusta, Mundo Livre, Karnak (pelo tom piadístico da coisa, inclusive), Adriana Calcanhoto (que também compõe parte das músicas), João Gilberto ou o próprio Caetano Veloso (que o vocal de Moreno não deixa passar batido). Mas estando em Barcelona e vendo o show enquanto se fala de Primavera, Sónar e tantos outros festivais que estão por chegar, as comparações vão um pouco além... e a banda pede.

É tão misturado e o show tem um tom tão improvisado, que um africano a caráter não se sente mal em invadir o palco e (tentar) tocar a percussão com a banda, mesmo sob gritos de "fora", que ele parece não entender. E a mistura entre os cinco dá mesmo samba, com o estilo indie de Kassin (camisa laranja e os óculos característicos, em guitarra e baixo), o estilo samba-rock de Domenico (camisa pólo e barba, tocando bateria e percussão eletrônica), e o óbvio estilo MPB de Moreno (camiseta branca e calça esportiva adidas, em voz e violão que não nega as raízes). O resultado parece saído do "Os Excêntricos Tenenbaums" e que assim como o filme, é estranho mas até que convence.

Acabado o show, vão os músicos para o moderno Hotel Camper, ali do lado. Fica o francês, percussionista, no boteco catalão mais sujo das redondezas, bebendo umas cervejinhas e fazendo amigos. Assim como é estranho ver ele em grupo tão nacional, é estranho vê-lo ali naquele bar, falando português com pessoas que não estavam no show. E depois ele nos pergunta: "onde é que é a festa vai depois daqui, hein?" A gente responde: "não, temos que trabalhar amanhã cedo". E ele insiste: "não, vamos lá, eu pago". Já virou brasileiro esse aí.

Texto: Ricardo Kenski (novo colaborador do blog)

3 comentários:

  1. Pô curti o showzinho ontem, fiquei super nostálgica, com o nó na garganta o dia inteiro de saudades do Brasil. Os meninos eram maravilhosos, e o bar catalao mais sujo das redondezas tinha uma tortilla de batata maravilhosa!!!! Curti o francês... e que história é essa de trabalhar, o cara pagando a conta Rica? Legal o post :-)

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  2. Eu acho é que vocês tão com saudade do Brasil...

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  3. o normal eh o cara. adoro o que ele escreve
    ass penha

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