Quem foi ver Gogol Bordello, nesta terça-feira, no Via Funchal em São Paulo, certamente tem história para contar. Nas quase 2 horas de show, o ucraniano Eugene Hütz e sua trupe tocaram todas as principais músicas, fizeram o público pular como poucas vezes na vida e quase não fizeram intervalo entre as músicas ou pausa para o bis. A emoção era tanta que a banda parecia não querer parar de tocar, mesmo já com as luzes da sala acesas; e quando parou, ficou junto do público, cumprimentando e comemorando a ponto de uma das dançarinas sair chorando após abraço com uma fã.
E por falar em "luzes acesas" o que deixou o show mais curioso foi o fato de que, enquanto rolava toda essa energia lá dentro, metade do Brasil estava na mais completa escuridão, um verdadeiro caos ocasionado pelo blecaute geral que o país viveu. Na volta do bis, o vocalista falou algo como "lá fora está tudo escuro. Vocês estão mesmo no lugar certo". E não havia mesmo lugar melhor para estar.
Em comparação ao primeiro show que fomos da banda, na sala Apolo, em Barcelona, faltou o salto alto que ele usou em boa parte das músicas, mas para compensar teve um público muito mais animado e devoto da banda. Os catalães não são famosos pela empolgação. É o que qualquer pessoa que vá ver um jogo do Barça pela primeira vez na vida se espanta: eles não pulam, não gritam, não entoam gritos de guerra ou coisas do tipo. E me parece curioso que só no show de ontem eles tocaram "Mala Vida", música famosa do grupo Mano Negra, do também clandestino Mano Chao, unanimidade em Barcelona e que assim como ele, sabe fazer um bom show. O detalhe local veio pela camiseta com a bandeira de Pernambuco vestida por Eugene e os uniformes do Santos, usado pelas duas meninas da banda na parte final do show.
Se falávamos que Bebel Gilberto e Perry Farrell vacilam, eis agora a fórmula perfeita de um bom show. E se Perry Farrell fala demais e por causa disso fala muita bobagem (como a frase "Dave Navarro é bonito, parece perfeito, mas saibam vocês que ele também tem problemas") e o agora aclamado Mike Patton, conseguiu ganhar o público falando um português curioso, ganha o Gogol Bordello do jeito que um bom show de música deve ser: falando pouco, tocando muito.
Bandas novas com show insosso, como Bloc Party, Killers e até Vampire Weekend (como vimos no Primavera Sound de 2007), deviam aprender um bocado com esses caras.
por Ricardo Kenski
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